terça-feira, 25 de novembro de 2014

Conto Machadiano "Pai contra Mãe". Estudo do autor sob o ponto de vista da sua representação como autor afro-brasileiro e sua inserção nas questões relacionadas à escravidão.

Análise do conto realizada na disciplina de Língua Portuguesa, pelos alunos do 2º Ano Médio-Noturno-Prof. Diego Ramires


"Pai Contra Mãe", de Machado de Assis.


A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres.
A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos
gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: "gratificar-se-á generosamente", -- ou "receberá uma boa gratificação". Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.
Cândido Neves, -- em família, Candinho,-- é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.
Contava trinta anos. Clara vinte e dous. Ela era órfã, morava com uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto que não namorasse o seu pouco, mas os namorados apenas queriam matar o tempo; não tinham outro empenho. Passavam às tardes, olhavam muito para ela, ela para eles, até que a noite a fazia recolher para a costura. O que ela notava é que nenhum deles lhe deixava saudades nem lhe acendia desejos.
Talvez nem soubesse o nome de muitos. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe passava de longe; algum que parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a outras.
O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um baile; tal foi -- para lembrar o primeiro ofício do namorado, -- tal foi a página inicial daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar. Não negavam a gentileza do noivo, nem o amor que lhe tinha, nem ainda algumas virtudes; diziam que era dado em demasia a patuscadas.
--Pois ainda bem, replicava a noiva; ao menos, não caso com defunto. --Não, defunto não; mas é que...
Não diziam o que era. Tia Mônica, depois do casamento, na casa pobre onde eles se foram abrigar, falou-lhes uma vez nos filhos possíveis. Eles queriam um, um só, embora viesse agravar a necessidade.
--Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome, disse a tia à sobrinha.
--Nossa Senhora nos dará de comer, acudiu Clara. Tia Mônica devia ter-lhes feito a advertência, ou ameaça, quando ele lhe foi pedir a mão da moça; mas também ela era amiga de patuscadas, e o casamento seria uma festa, como foi.
A alegria era comum aos três. O casal ria a propósito de tudo. Os mesmos nomes eram objeto de trocados, Clara, Neves, Cândido; não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço.
Ela cosia agora mais, ele saía a empreitadas de uma cousa e outra; não tinha emprego certo. Nem por isso abriam mão do filho. O filho é que, não sabendo daquele desejo específico, deixava-se estar escondido na eternidade. Um dia. porém, deu sinal de si a criança; varão ou fêmea, era o fruto abençoado que viria trazer ao casal a suspirada ventura. Tia Mônica ficou desorientada, Cândido e Clara riram dos seus sustos.
--Deus nos há de ajudar, titia, insistia a futura mãe.
A notícia correu de vizinha a vizinha. Não houve mais que espreitar a aurora do dia grande. A esposa trabalhava agora com mais vontade, e assim era preciso, uma vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo com retalhos o enxoval da criança. À força de pensar nela, vivia já com ela, media-lhe fraldas, cosia-lhe camisas. A porção era escassa, os intervalos longos. Tia Mônica ajudava, é certo, ainda que de má vontade.
--Vocês verão a triste vida, suspirava ela. --Mas as outras crianças não nascem também? perguntou Clara. --Nascem, e acham sempre alguma cousa certa que comer, ainda que pouco... --Certa como? --Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo?
Cândido Neves, logo que soube daquela advertência, foi ter com a tia, não áspero mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já algum dia deixara de comer.
--A senhora ainda não jejuou senão pela semana santa, e isso mesmo quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter o nosso bacalhau... --Bem sei, mas somos três. -- Seremos quatro. --Não é a mesma cousa. -- Que quer então que eu faça, além do que faço? -- Alguma cousa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm um emprego certo... Não fique zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação que escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém. -- Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos entregam-se logo.
Tinha glória nisto, falava da esperança como de capital seguro. Daí a pouco ria, e fazia rir à tia, que era naturalmente alegre, e previa uma patuscada no batizado.
Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma esquina, conversando de cousas remotas, via passar um escravo como os outros, e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso.
Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.
Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos não vinham já, como
dantes, meter-se nas mãos de Cândido Neves. Havia mãos novas e hábeis. Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor.
Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difícil e dura. Comia-se fiado e mal; comia-se tarde. O senhorio mandava pelo aluguéis.
Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro, enganar-se de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessidade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem.
--É o que lhe faltava! exclamou a tia Mônica, ao vê-lo entrar, e depois de ouvir narrar o equívoco e suas conseqüências. Deixe-se disso, Candinho; procure outra vida, outro emprego.
Cândido quisera efetivamente fazer outra cousa, não pela razão do conselho, mas por simples gosto de trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou de pessoa. O pior é que não achava à mão negócio que aprendesse depressa.
A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de nascer.
Chegou o oitavo mês, mês de angústias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais amargos.
--Não, tia Mônica! bradou Candinho, recusando um conselho que me custa escrever, quanto mais ao pai ouvi-lo. Isso nunca!
Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar a criança que nascesse à Roda dos enjeitados. Em verdade, não podia haver palavra mais dura de tolerar a dous jovens pais que espreitavam a criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular... Enjeitar quê? enjeitar como? Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro na mesa de jantar. A mesa, que era velha e desconjuntada, esteve quase a se desfazer inteiramente. Clara interveio. -- Titia não fala por mal, Candinho. --Por mal? replicou tia Mônica. Por mal ou por bem,seja o que for, digo que é o melhor que vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão faltando. Se não aparecer algum dinheiro, como é que a família há de aumentar? E depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior. Este será bem criado, sem lhe faltar nada. Pois então a Roda é alguma praia ou monturo? Lá não se mata ninguém, ninguém morre à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se viver à míngua. Enfim...
Tia Mônica terminou a frase com um gesto de ombros, deu as costas e foi meter-se na alcova. Tinha já insinuado aquela solução, mas era a primeira vez que o fazia com tal franqueza e calor,-- crueldade, se preferes. Clara estendeu a mão ao marido, como a amparar-lhe o ânimo; Cândido Neves fez uma careta, e chamou maluca à tia, em voz baixa. A ternura dos dous foi interrompida por alguém que batia à porta da rua.
--Quem é? perguntou o marido. --Sou eu.
Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em pessoa ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse.
--Não é preciso... --Faça favor.
O credor entrou e recusou sentar-se, deitou os olhos à mobília para ver se daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário; mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar a retorquir. Fez uma
inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da casa não cedeu mais.
--Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo.
Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança.
A situação era aguda. Não achavam casa, nem contavam com pessoa que lhes
emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para os lados de um pátio.
Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dous, para que Cândido Neves, no
desespero da crise começasse por enjeitar o filho e acabasse alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do obséquio e iriam dormir melhor do que
cuidassem.
Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dous dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia Mônica insistiu em dar a criança à Roda. "Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos." Cândido Neves pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria.
Notai que era um menino, e que ambos os pais desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte.
Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos . As gratificações pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto e de vestido.
Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora, porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata.Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara de si mesma
a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à Roda. O pai, não
obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.
Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que cobria o rosto para preservá-lo do sereno.
Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o passo. --Heide entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele. Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. 
Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta.
--Mas...
Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a mesma, era a mulata fujona. --Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio.
Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus.
--Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! -- Siga! repetiu Cândido Neves. --Me solte! --Não quero demoras; siga!
Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia.
Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoutes,--cousa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoutes.
--Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou
Cândido Neves.
Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele.
Também é certo que não costumava dizer grandes cousas. Foi arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede, recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que devera. Chegou, enfim, arrastada, desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao rumor.
--Aqui está a fujona, disse Cândido Neves. -- É ela mesma. --Meu senhor! --Anda, entra...
Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia,
levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os
gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as conseqüências do desastre.
Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor.
Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga.
Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.
--Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.


"A abolição é a aurora da liberdade;
esperemos o sol; emancipado o preto,
resta emancipar o branco."
(Machado de Assis. Esaú e Jacó)

Antes de proceder à leitura o professor elencou na lousa aspectos relevantes que estavam enviesados com a proposta do conto “Pai contra Mãe”.
Começamos por ouvir e debater o seguinte excerto da canção de Elza Soares: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. 
Esta atividade é uma Sequência Didática pensada para culminar com uma produção textual crítica com enfoque sobre a abolição da escravidão e a escravidão no mundo globalizado da atualidade.



Aleijadinho o artista "IMORTAL"


Para o deputado Dinis Pinheiro, a obra de Aleijadinho é imortal e reconhecida nos meios acadêmico e artístico, e as homenagens ao bicentenário de morte do artista são uma oportunidade para que sua obra seja popularizada e também para se resgatar a importância histórica do período barroco. “A redescoberta e a difusão desse período áureo na vida de Minas Gerais, a partir da comemoração do Dia do Barroco Mineiro, fará justiça às diversas formas de expressão fundamentais para a constituição de nossa identidade”, destaca.
A secretária de Estado de Cultura, Eliane Parreiras, também destaca a relevância das homenagens a Aleijadinho. “Essa temática não só é importante marca da identidade cultural mineira, como também constitui verdadeiro legado deixado ao patrimônio histórico e artístico de Minas Gerais”, enfatiza.
Programação tem lançamento de medalha e de publicações
No dia 13 de novembro, às 10 horas, no Expominas, a ALMG promove a solenidade de entrega da Ordem do Mérito Legislativo, que vai celebrar a vida e o legado de Aleijadinho para a humanidade. A Ordem do Mérito Legislativo é concedida todos os anos pela ALMG a personalidades de destaque, e a cerimônia deste ano tem como oradora oficial a empresária, colecionadora de arte e empreendedora cultural Angela Gutierrez.
Às 20 horas do dia 18 de novembro, data em que se comemora o Dia do Barroco Mineiro, será lançada na ALMG, pela Casa da Moeda do Brasil, a medalha comemorativa do bicentenário da morte de Aleijadinho. Neste ano, uma das faces da medalha será cunhada com a obra “Retrato de Aleijadinho”, de Euclásio Penna Ventura. Para estampar a outra face, foi escolhido, em votação popular, o profeta Daniel, escultura que adorna o Santuário de Bom Jesus do Matozinhos, em Congonhas (Região Central do Estado).
Na mesma solenidade na ALMG, também será lançado o livro “Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”, com textos da professora Cristina Ávila e fotos de Márcio Carvalho, em edição trilíngue. Trata-se de uma análise histórica sobre o Barroco Mineiro e sobre a importância de Aleijadinho. A publicação reúne fotografias mostrando conjuntos de obras, detalhes de algumas peças e análises estilísticas dos trabalhos de Aleijadinho. Os textos têm uma forma técnico-científica, porém numa linguagem acessível a todas as pessoas.
No dia 27 de novembro, às 19 horas, no Museu Mineiro, acontece o lançamento de quatro publicações temáticas: a cartilha elaborada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), com informações sobre Aleijadinho, voltada para alunos do ensino fundamental; a edição especial do Suplemento Literário (publicação oficial do Governo do Estado dedicada às artes e à literatura) sobre o Barroco Mineiro, com textos de intelectuais como Antonio Candido, Mário de Andrade e Sílvio de Vasconcelos; o catálogo da exposição Patrimônio Recuperado, com obras históricas recuperadas pelo Ministério Público; e o folder da exposição “O Barroco nas Coleções do Museu Mineiro”.
Além disso, ao longo do mês de novembro, prossegue a série de concertos musicais Nosso Barroco Mineiro. O cravista Antônio Carlos de Magalhães apresenta música barroca mineira com comentários de especialistas. Estão programados concertos em Curvelo (15/11), Ouro Preto (19/11) e Congonhas (13/12), e já foram realizadas apresentações em outras nove cidades. A iniciativa é da ALMG com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG).
Como ações de instituições parceiras, destacam-se a 37ª Semana de Aleijadinho, que nesta edição alcança seis cidades mineiras; o Encontro sobre Patrimônio Sacro, que acontece em Campanha (Sul de Minas); e uma ação conjunta de todas as arquidioceses da Região Metropolitana de Belo Horizonte que possuem obras de Aleijadinho – ao meio dia do dia 18, todas irão tocar os sinos, de maneira sincronizada.
FONTE:http://www.atilalemos.com.br/2014/11/novembro-tem-programacao-em-homenagem-aleijadinho-na-almg/








O MULATO - Aluísio Azevedo

Obra de Aluísio de Azevedo publicada em 1881, O Mulato foi o romance que marcou o começo do naturalismo na literatura brasileira. O livro abordou temas delicados para a época como o preconceito contra os negros na sociedade do Maranhão daquele período e a corrupção clerical. Desta forma, o escritor irritou seus conterrâneos e sofreu com a pressão das publicações locais. "Satanás da cidade". Assim ficou conhecido Aluísio Azevedo em São Luis pela autoria de O Mulato. O grau de insatisfação que o romance causou pode ser medido por uma matéria publicada em um jornal daquele período chamado "A Civilização", na qual o escritor era aconselhado a "pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo". Devido a isso, o autor precisou voltar para o Rio de Janeiro, onde foi bem recebido e teve sucesso.
Alguns elementos naturalistas quer estão presentes nesta obra são: a crítica social, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luis: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco; o anti-clericalismo projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino; a oposição ao preconceito racial que é o fulcro de toda a trama; o aspecto sexual referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo; o triunfo do mal, pois no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o padre Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego.

História da Rainha Nzinga


... como os outros povos, seja na Europa, na Ásia, na América, anterior ao “descobrimento”, viviam ou estavam em processo de luta. Onde muitos subjugaram outros, dominavam, destruíam, formavam reinos e criavam dinastias. Outros estavam em campanha militar para expansão de seus domínios. Existia organização política, econômica de vários povos africanos.

Estas lutas facilitaram muito a penetração dos europeus, já que encontravam muito enfraquecidos pelos conflitos. Mas mesmo assim a história é a crônica da luta entre a ambição européia e a determinação das populações nativas em permanecerem donas de seu próprio destino.

NZINGA MBANDI NGOLA KILUANJI, a legendária “Rainha Jinga”, até hoje presente na tradição afro-brasileira, nasceu em 1582, filha do rei Jinga Mbandi Ngola Kiluanji, foi rainha do povo Bundos, um grupo do povo Bantu, que hoje pertence a República de ANGOLA, anteriormente conhecido como Ndongo-Ngola, depois de Reino de Angola. Com a morte de seu pai ,inicia uma luta sucessória entre Nzinga e seu irmão Ngola Mbandi,que já era rei, antes do pai morrer.A ambição do Ngola Mbandi, que deseja as terras da irmã, não mede meios e manda matar o jovem sobrinho para que não haja sucessão..Ao receber o corpo de seu filho jura morte-por-morte. NZINGA inicia o processo de vingança, vive num recanto escondido, longe do irmão truculento. Inicia um pequeno exército. Assalta fronteiras de Ngola Mbandi, apoderando-se de gados, mulheres, homens, semeando prestígio ameaçador. Por volta de 1618, os conquistadores portugueses, estavam com problemas no seu meio e a princesa NZINGA começa a revelar a grande figura histórica que seria logo depois. Em 1622, atende a um pedido de seu irmão rei, embora fosse sua inimiga, torna-se sua embaixadora em Luanda, junto ao governador geral de Angola, Congo e Benguela, o português João Correia de Souza, para negociar a paz. Para conseguir a confiança lusa NZINGA deixa-se batizar recebendo o nome de ANA DE SOUZA, e, com sua eloquência, fluência de raciocínio e propriedade de linguagem, impressiona de tal forma os portugueses que eles, depois de pensarem que se trata de algo sobrenatural, entendem que estão diante de üma pessoa excepcional com uma mente brilhante, uma revelação verdadeiramente talentosa de superioridade intelectual africana”,

De fato, NZINGA e sua corte, localizada na região de Cambo Camana, terra dos Hembe e Matamba, na fronteira norte de Angola com a atual República do Zaire, eram bem diferente do que os europeus julgavam. O palácio real era uma das áreas mais seguras em Matamba. Ninguém podia entrar ou sair sem o conhecimento e a permissão dos homens de segurança da soberana. NZINGA trabalhava, discutindo assuntos correntes do Estado e recebendo relatórios acerca da cada atividade significativa do reino. Para evitar qualquer erosão do poder, respeito e autoridade entre seus chefes, NZINGA nunca os castigava em público,
somente em particular, assim como seu pai costumava fazer. Aqueles chefes que combatessem ao lado do inimigo eram atacados impiedosamente. Em sua luta, ela dividia as pessoas ou como amigas ou como inimigas. A estrutura burocrática era acessível, tanto aos homens quanto às mulheres. O sistema de justiça fundamentava-se nos serviços de autoridades (tipo advogados) que ouviam as queixas de seus clientes e as apresentavam à corte regional. Através de todas essas instituições, NZINGA exercia um estreito controle sobre a burocracia de Matamba.

Voltando de sua missão diplomática, a ainda princesa desperta a inveja do irmão e rival que, então, manifesta aos portugueses o desejo de ser também batizado. Só que os portugueses mandam até Mbaka um padre negro e outro mestiço o que desencadeia a fúria do Ngola Mbandi e faz recomeçarem as hostilidades. Mas Ngola morre envenenado - dizem que a mando de NZINGA. Então NZINGA se torna a rainha do Ndongo e de Matamba em 1623.

O reinado de NZINGA MBANDI se caracteriza por uma guerra quase sem tréguas contra o colonialismo português. E, assim, ela governa de Matamba, as terras do Jagas, seus aparentados.

Os portugueses procuram neutralizar seu poder. Em 1625 NZINGA monta seu quartel general na Ilha Ndangi, no Cuanza - local de grande importância pois era ali que estavam sepultados os grandes ancestrais dos Bundos e era ali que os soberanos trocavam com eles e os espíritos da natureza a força vital que move os homens e o Universo, como os Bantos acreditam.

Em sua luta contra os portugueses, se torna uma grande estrategista, muda bases de operações. E em 1628 sofre sério revés, juntamente com outros chefes. Suas irmãs, Cambe e Fungi, são presas e enviadas para Luanda. Mas reconstitui o Reino de Matamba. Em 1630 formam-se duas coligações contra os portugueses.
Quando os holandeses resolvem conquistar Angola, por volta de 1637, para incrementar cada vez mais a importação de mão-de-obra escrava para que se pudesse tirar cada vez mais açúcar, já que à época o Reino de Angola era o grande manancial abastecedor dos engenhos brasileiros. Nesse período os holandeses estavam no nordeste brasileiro e lutavam contra os portugueses.

Em 1641, os holandeses dominam várias províncias em Angola. E aí, participando do momento histórico a Rainha NZINGA, - que em 1635 formara uma coligação guerreira reunindo ao seu reino de Ndongo-Matamba, o Congo, os Estados Livres da Quissama, o de Cassanje e o dos Dembos,-se alia aos holandeses. Em 1647 o domínio da coligção é total. Então, parte do Rio de Janeiro o carioca Salvador Correia de Sá e Benevides, que em 1648, depois de encarniçados combates, vence a tríplice aliança em Massangano, expulsa os holandeses e inaugura o período de dominação brasileira em Angola. A partir daí, a burguesia lusitana do Brasil toma o lugar dos portugueses de Lisboa e o tráfico de escravos experimenta um terrível incremento.

Em 1657, a Rainha NZINGA, em seu retiro de Matamba, ainda assina um tratado de paz com os portugueses, para finalmente falecer seis anos depois, aos 81 anos de idade. E em 1671 o velho Ndongo recebe o nome de “Reino Português de Angola”. Mas a resistência continua por mais de trezentos anos, vindo até 1975, quando Angola afinal se torna independente, em uma das mais sangrentas guerras pela independência no Continente Africano.

Enquanto, isto no Brasil, os povos africanos trazidos como escravos resistiam de todos as formas a opressão, fugiam , organizavam quilombos. A luta do maior quilombo do Brasil, o de Palmares, neste período, século XVII, vivia em luta, até sucumbir em 1695, com o assassinato de seu grande líder ZUMBI, em 20 de novembro de 1695.

Portanto a escravização dos povos africanos pelos europeus teve grandes resistências e muitas lutas., Nunca foi pacifica, como querem que acreditamos.

FONTE: 
http://www.revistaafro.com.br/mundo-afro/nzinga-mbande-conheca-a-historia-da-rainha-quilombola-de-angola/

Constituição Federal: " Art. 3º, IV, o preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".

Este parecer visa atender as necessidades expressos na Indicação CNE/CP 06/2002, bem como regulamentar a alteração trazida à Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pela Lei 10639/2003 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica.
Todos estes dispositivos legais, bem como reivindicações e propostas do Movimento Negro ao longo do século XX, apontam para a necessidade de diretrizes que orientam a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a educação de relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir.
O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata ele, de política curricular, fundada em dimensões  históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. 

“A única arma para melhorar o planeta é a Educação com ética. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. 
NELSON MANDELA





segunda-feira, 24 de novembro de 2014

PARÓDIA-"Beijinho no ombro".


Desejo a todas as pessoas liberdades
Pra que elas façam cada dia sua própria história
Brancos, indígenas, negros e outras raças
Várias culturas dentro e fora do Brasil

Acredito sim nas escolas do futuro
Mas sem tirar o foco dos estudos
Por isso mesmo é preciso aprender
Que o preconceito hoje não tem nada a ver

Sou brasileiro
Curto a diversidade
Keep calm deixa de recalque
A nossa escola
Só agora explodiu
Contra o preconceito
Que não pode ter no Brasil

Beijinho no ombro
Pro recalque passar longe
Beijinho no ombro
Pra quem só faz distinção
Beijinho no ombro
Pra quem fecha com o bonde
Beijinho no ombro
Pra quem tem discriminação

*Paródia produzida pelos 6º Anos. 

Negros - Adriana Calcanhotto

Cartaz confeccionado por alunos do 8º Ano

Negros - Adriana Calcanhotto
O sol desbota as cores
O sol dá cor aos negros
O sol bate nos cheiros
O sol faz se deslocarem as sombras
A chuva cai sobre os telhados
Sobre as telhas
E dá sentido as goteiras
A chuva faz viverem as poças
E os negros recolhem as roupas
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são retintos
Os brancos têm culpa e castigo
E os negros têm os santos
Os negros na cozinha
Os brancos na sala
A valsa na camarinha
A salsa na senzala
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são azuis
Os brancos ficam vermelhos
E os negros não
Os negros ficam brancos de medo
Os negros são só negros
Os brancos são troianos
Os negros não são gregos
Os negros não são brancos
Os olhos dos negros são negros
Os olhos dos brancos podem ser negros
Os olhos, os zíperes, os pêlos
Os brancos, os negros e o desejo
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
A música dos brancos
A música dos pretos
A música da fala
A dança das ancas
O andar das mulatas
"O essa dona caminhando"
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos

Lanço o meu olhar sobre o Brasil e não entendo nada

Link: http://www.vagalume.com.br/adriana-calcanhoto/negros.html#ixzz3K1ftewDO





Dia da Consciência Negra-African Style- Coldplay-Paradise (PEPONI)



Resolução nº 1. de 17 de julho de 2004


Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 

Art. 1º A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, em especial, por Instituições que desenvolvem programas de formação inicial e continuada de professores.
§ 1°  As Instituições de Ensino Superior incluirão nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP 3/2004.
§ 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curriculares, por parte das instituições de ensino, será considerado na avaliação das condições de funcionamento do estabelecimento. 
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluri-étnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção de nação democrática. 
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira.
§ 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o
reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas.
§ 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios desenvolver as Diretrizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução, dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes federativos e seus respectivos sistemas.
Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira,
e História e Cultura Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, competências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedoras e coordenações pe
dagógicas, atendidas as indicações, recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/CP 003/2004.
§ 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantenedoras incentivarão e criarão condições materiais e financeiras, assim como proverão as escolas, professores e alunos, de material bibliográfico e de outros materiais didáticos necessários para a educação tratada no “caput” deste artigo.
§ 2° As coordenações pedagógicas promoverão o aprofundamento de estudos, para que os professores concebam e desenvolvam unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes componentes curriculares.
§ 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da Lei 10639/2003, refere-se, em especial, aos componentes curriculares de Educação Artística, Literatura e História do Brasil.
§ 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas sobre processos educativos orientados por valores, visões de mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesquisas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a educação brasileira.
Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino poderão estabelecer canais de comunicação com grupos do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições formadoras de professores, núcleos de estudos e pesquisas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para planos institucionais, planos pedagógicos e projetos de ensino.
Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no sentido de garantir o direito de alunos afrodescendentes de frequentarem estabelecimentos de ensino de qualidade, que contenham instalações e equipamentos sólidos e atualizados, em cursos ministrados por professores competentes no domínio de conteúdos de ensino e comprometidos com a educação de negros e não negros, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem desrespeito e discriminação.
Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de ensino, em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, incluirão o previsto o exame e encaminhamento de solução para situações de discriminação, buscando-se criar situações educativas para o reconhecimento, valorização e respeito da diversidade.
§ Único: Os casos que caracterizem racismo serão tratados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, conforme prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988.
Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão a elaboração e edição de livros e outros materiais didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/CP 003/2004.
Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla divulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, em atividades periódicas, com a participação das redes das escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étnico-Raciais.
§ 1° Os resultados obtidos com as atividades mencionadas no caput deste artigo serão comunicados de forma detalhada ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, para que encaminhem providências, que forem requeridas.
Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Roberto Cláudio Frota Bezerra
Presidente do Conselho Nacional de Educação